Agir por impulso e sem planejamento na hora das compras tem sido a causa de rombos no orçamento de muitas pessoas. E, diferente do que muitos possam imaginar, essas compras não são de produtos como roupas, calçados ou eletrônicos.
Uma pesquisa do SPC Brasil (Serviço de Proteção ao Crédito) e da CNDL (Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas) mostra que 33,2% das compras feitas por impulso acontecem no supermercado.
De acordo com Adriana Rodopoulos, economista e fundadora da Oficina de Escolhas, as compras por impulso acontecem porque a gente tem dificuldade de adiar gratificações e de vislumbrar o longo prazo.
“Ter uma vida financeira estável implica em adiar consumo e poupar. E não é poupar o que sobra, é poupar assim que a gente recebe o salário – como se fosse uma espécie de prestação – e acomodar as despesas dentro daquilo que sobra”, afirma Adriana.
A especialista explica que, de modo geral, seres humanos têm dificuldades em adiar consumo. Adriana ressalta que no caso brasileiro ainda temos um agravante: o nosso processo histórico.
“Vivemos um período relativamente longo de inflação alta e dentro desse cenário adiar consumo e poupar era praticamente impossível (e irracional!) para a maioria dos brasileiros. Depois, veio a estabilização da moeda e mais recentemente experimentamos um crescimento baseado na expansão da oferta de crédito. Então, não houve um tempo para que a população pudesse estabelecer um hábito de adiar consumo e criar poupança”, explica a economista.
A sensação de estar fazendo um bom negócio ao se comprar em promoções é um dos fatores que potencializam os riscos de compras por impulso. Segundo o levantamento, o maior motivo que leva os consumidores a comprar por impulso são promoções (51%), seguido de preço atrativo (31%), características do produto, como funcionalidade e beleza (6%) e facilidade de pagamento (4%).
Para Marcela Kawauti, economista do SPC Brasil, descontos que, à primeira vista, facilitam a compra, dificilmente serão compensados caso o consumidor não consiga pagar a fatura do cartão de crédito e caia no cheque especial: “Nesse caso, a compra pode sair mais cara, principalmente em tempos de juros mais altos”.
O pagamento em cartão ou cheque também contribui para a compra por impulso, porque segundo pesquisas, a gente não “sente” muito um pagamento quando ele não é feito em dinheiro.
“Aliás, vale a pena fazer esse teste: fique uma semana sem cartões na carteira, utilize apenas dinheiro e preste atenção no seu comportamento, pode ser surpreendente!”, sugere Adriana.
Como evitar compras por impulso?
A compra por impulso é um dos principais motivos do descontrole financeiro, de acordo com o SPC Brasil.
A falta de equilíbrio do orçamento impede que os consumidores tenham uma reserva financeira para lidar com gastos imprevistos ou realizar metas. Nessa situação, o risco de inadimplência tende a aumentar, pois dívidas acumuladas podem comprometer o pagamento de gastos essenciais, como as despesas da casa.
Monitorar o orçamento mensal ajuda o consumidor a ter uma visão de sua renda e despesas e evita que o dinheiro comprometido com gastos fixos seja utilizado para compras, diz a economista-chefe do SPC Brasil: “Quem compra por impulso geralmente não tem noção do quanto gasta. Ver onde está exagerando é um incentivo para parar”.
Adriana, da Oficina de Escolhas, explica que no geral, as pessoas não fazem compras de valor alto por impulso. “Às vezes acontece, mas é mais raro. Então, é preciso ficar atento a esse comportamento porque muitas vezes a gente se recusa a comprar algo que custa R$200, mas acaba fazendo dez comprinhas ‘inocentes’ de R$20 ao longo do mês”, alerta.
Outra dica da especialista é: sempre que resistir a uma tentação, anote o quanto você gastaria e no final do mês, some. “Multiplique por doze e veja o quanto teria ido pelo ralo em um ano. Isso às vezes é surpreendente e pode ser uma forma de começar uma poupança”.
Caso ainda esteja difícil, dificulte a sua vida: deixe os cartões em casa e utilize apenas dinheiro por algum tempo. “A gente fica mais ‘mão de vaca’ quando anda só com dinheiro”, diz. Vale também pedir para amigos e familiares te “policiarem” quando estiver caindo em tentação.
Se ainda assim você tiver problemas para controlar esses impulsos, procurar auxílio de um especialista pode ser uma alternativa. “Dificuldade muito grande em controlar esses impulsos pode ser um sinal de consumo compulsivo e aí é preciso ajuda profissional”.
Fonte: http://dinheirama.com/